Estou me desligando por
enquanto do movimento feminista virtual e presencial por fatores que, não
envolvem apenas o pessoal, mas também o politico, mas ora, o pessoal não é
politico afinal? Então, eu acho que antes de sair e bater a porta atrás de mim
e de fato consolidar meu isolamento eu quero registrar algumas experiências que
me fizeram tomar tal decisão.
Eu devo aqui antes dizer que
eu leio muito, não teorias, mas a vivência de outras mulheres, me importo com
elas e elas de fato fazem diferença na minha vida, eu reflito sobre o que
escrevem, absorvo e tento colocar em prática aquilo que li, tentando assim
fazer da minha militância o mais horizontal e transparente possível. Obviamente
que cometi erros durante esses quase três anos de militância, mas sempre tentei
ser o mais ética possível, sempre tentando não transformar minha militância em
um clube fechado, onde minhas amigas têm razão e qualquer outra mulher, não.
Isso nem faz muito minha linha de posicionamento, pelo contrário, as mulheres
que me cercam e que são próximas sabem que minha posição sempre será a de
apontar seus erros e apesar do acolhimento que ofereço sempre achar que devam
enfrentar as consequências de seus atos, assim como enfrento as minhas próprias
consequências quando erro.
O ponto que quero chegar é
que o Movimento Feminista é grande, forte e ultrapassa a pouca experiência que
tenho, ultrapassa os limites virtuais, mas é imaturo e deveras irresponsável e
isso está explicito no modo de agir de suas militantes, nas quais eu mesma me
incluo. Não há uma linha de ética traçada ou se há, ela é engolida por egos e
likes, não existe consenso em como agir em dados momentos, assim, cada qual se
guia por aquilo que acredita e passa por cima de outras mulheres. Há alguns
dias eu tenho usado com pessoas próximas a expressão “devemos ser estratégicas”
porque ser estratégica te faz racionalizar os momentos em que a frustração e
raiva possam vir aparecer por quaisquer motivos. O movimento feminista tem sido
engolido por passionalidade, tem sido pouco eficaz em alcançar mulheres reais e
quando alcança, as afasta. Não são poucas as mulheres que eu pessoalmente
admiro e que se afastaram do movimento, são mulheres estrategistas, mulheres
reais que deveriam ser ouvidas e em vez disso, foram afastadas como se fossem
uma ameaça ao movimento, mulheres que tem muito o que dizer e que, por mais que
eu me sentisse incomodada por também ter o dedo na ferida, são mulheres que tem
muito o que ensinar e com elas teríamos muito o que aprender.
Para além disso, eu vou
colocar aqui também minhas experiências pessoais e minha visão, talvez algumas
pessoas se sintam intimamente e pessoalmente incomodadas com meu texto, já peço
desculpas desde já, mas para o que eu quero expressar é necessário que minha
experiência seja colocada em pauta. Bom, como disse no inicio do texto eu já
cometi erros e alguns erros foram graves, erros esses que fizeram com que
mulheres se afastassem de mim e que assim permaneçam até hoje e embora isso me
incomode porque eu consegui amadurecer, elas tem toda razão e direito de se
preservarem de minha presença. Talvez o maior e mais grave de meus erros foi em
certo momento em que permiti que minha frustração e raiva por uma situação
passassem a influenciar também minha militância, fui extremamente passional e
nesse momento pude comprovar o quanto era imatura e irresponsável. De lá para
cá, mudei a forma de militar e de como me envolvia pessoal e emocionalmente com
as mulheres que passaram a me cercar: tornei-me mais franca, apesar de ainda
cuidadosa, tornei-me mais forte para expor situações e tornei-me alguém melhor,
mais comedida e responsável, não apenas comigo mesma, mas também com as
mulheres que me cercam. Pude trazer isso pra militância e passei em primeiro
lugar a traçar limites, a estabelecer prioridades e estratégias, sem nunca
desligar-me de alguns valores que aprendi com outras mulheres e os quais quero
manter pro resto da vida. Mas assim como aprendi a lidar com algumas situações,
ainda me perco em outras e foi exatamente isso que me trouxe um desgaste
emocional grandioso.
Há algum tempo eu passei por
uma situação que, talvez, para quem não estivesse perto de mim e não saiba o
que eu estava passando por aquele período possa parecer drama e até mesmo um
pouco de exagero, não me surpreenderia. O que se passou foi que fui exposta a
uma situação em que me senti muito mal. Esse incomodo foi real pra mim, eu
sofri (e ainda sofro) muito por aquela situação da qual eu tento desde sempre
não me lembrar, mas que de alguma forma veio a tona novamente. Por nunca
conseguir expressar o que me aconteceu porque algumas das pessoas com quem
conversei não acham que minhas sensações seriam reais e reduziram aquilo a um
simples mal entendido, me calei, e me calei também por respeito e temor das
pessoas que poderiam e estariam envolvidas naquela situação. Eu nunca as
procurei de fato para conversarmos sobre o que se passou, procurei apenas para
esclarecer outros fatos, eu ainda não me sentia e nem me sinto preparada para
lidar com isso, apesar de eu estar escrevendo sobre, pessoalmente, ainda não
tenho forças para conseguir expressar o que senti naquele momento. Mas, porque
eu estou dizendo isso? Porque aqui eu quero dizer que muitas feministas não levam o que algumas mulheres falam ou sentem tão
seriamente, se calam ante a situações que são nocivas para algumas mulheres
porque nestas situações muitas vezes estão envolvidas feministas que tem
influência e que podem ser e são amigas pessoais umas das outras.
Então, eu gostaria, já
finalizando esse texto (o qual estou chamando de suicídio politico e despedida
do movimento) que vocês amadurecessem um pouco mais suas ideias sobre ética no
movimento feminista, sobre passionalidade e passassem a traçar estratégias que
possam ir ao encontro de todas as mulheres, que possam voltar atrás em suas
opiniões e atos, analisa-los e se preciso for se posicionar de modo diferente
quando houver possibilidade. Não coloquem suas amigas à frente quando se tratar
de militância, cobrem postura quando necessário e sempre ouçam umas às outras,
principalmente mulheres que já tem experiência e mais do que isso, vivência.
Não depositem sua confiança 100% em outras mulheres, elas são passíveis de erro
e mais do que isso, elas podem não ser quem vocês pensam que elas são. Mulheres
também podem ferir e ser feridas, não passem por cima de seus limites para nada
e não permitam que outras mulheres passem por cima. Tentem se manter fortes e
tentem compreender as diferenças que suas vivências proporcionam, tentem não
cair nas armadilhas de nossa socialização, desconstruam, antes de tudo,
rivalidade, pensem na estética depois, não adianta desconstruir estética quando ainda se mantém valores
patriarcais. Deem voz a quem realmente deve ter voz: mulheres negras, periféricas,
lésbicas, mães que são constantemente invisibilizadas dentro dos espaços feministas, que parem de aplaudir ladainha de mulheres classe média alta e coloquem o
dedo na ferida e se permitam sentir pra desconstruir. Aqui me desligo
momentaneamente (ou não) do movimento feminista, mas continuo ao lado das
mulheres que aprendi a amar e respeitar e permaneço aprendendo com tantas
outras.
Marx.
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