quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Por que decidi me afastar do movimento feminista por Marx Lopes

Estou me desligando por enquanto do movimento feminista virtual e presencial por fatores que, não envolvem apenas o pessoal, mas também o politico, mas ora, o pessoal não é politico afinal? Então, eu acho que antes de sair e bater a porta atrás de mim e de fato consolidar meu isolamento eu quero registrar algumas experiências que me fizeram tomar tal decisão.

Eu devo aqui antes dizer que eu leio muito, não teorias, mas a vivência de outras mulheres, me importo com elas e elas de fato fazem diferença na minha vida, eu reflito sobre o que escrevem, absorvo e tento colocar em prática aquilo que li, tentando assim fazer da minha militância o mais horizontal e transparente possível. Obviamente que cometi erros durante esses quase três anos de militância, mas sempre tentei ser o mais ética possível, sempre tentando não transformar minha militância em um clube fechado, onde minhas amigas têm razão e qualquer outra mulher, não. Isso nem faz muito minha linha de posicionamento, pelo contrário, as mulheres que me cercam e que são próximas sabem que minha posição sempre será a de apontar seus erros e apesar do acolhimento que ofereço sempre achar que devam enfrentar as consequências de seus atos, assim como enfrento as minhas próprias consequências quando erro.

O ponto que quero chegar é que o Movimento Feminista é grande, forte e ultrapassa a pouca experiência que tenho, ultrapassa os limites virtuais, mas é imaturo e deveras irresponsável e isso está explicito no modo de agir de suas militantes, nas quais eu mesma me incluo. Não há uma linha de ética traçada ou se há, ela é engolida por egos e likes, não existe consenso em como agir em dados momentos, assim, cada qual se guia por aquilo que acredita e passa por cima de outras mulheres. Há alguns dias eu tenho usado com pessoas próximas a expressão “devemos ser estratégicas” porque ser estratégica te faz racionalizar os momentos em que a frustração e raiva possam vir aparecer por quaisquer motivos. O movimento feminista tem sido engolido por passionalidade, tem sido pouco eficaz em alcançar mulheres reais e quando alcança, as afasta. Não são poucas as mulheres que eu pessoalmente admiro e que se afastaram do movimento, são mulheres estrategistas, mulheres reais que deveriam ser ouvidas e em vez disso, foram afastadas como se fossem uma ameaça ao movimento, mulheres que tem muito o que dizer e que, por mais que eu me sentisse incomodada por também ter o dedo na ferida, são mulheres que tem muito o que ensinar e com elas teríamos muito o que aprender.
Para além disso, eu vou colocar aqui também minhas experiências pessoais e minha visão, talvez algumas pessoas se sintam intimamente e pessoalmente incomodadas com meu texto, já peço desculpas desde já, mas para o que eu quero expressar é necessário que minha experiência seja colocada em pauta. Bom, como disse no inicio do texto eu já cometi erros e alguns erros foram graves, erros esses que fizeram com que mulheres se afastassem de mim e que assim permaneçam até hoje e embora isso me incomode porque eu consegui amadurecer, elas tem toda razão e direito de se preservarem de minha presença. Talvez o maior e mais grave de meus erros foi em certo momento em que permiti que minha frustração e raiva por uma situação passassem a influenciar também minha militância, fui extremamente passional e nesse momento pude comprovar o quanto era imatura e irresponsável. De lá para cá, mudei a forma de militar e de como me envolvia pessoal e emocionalmente com as mulheres que passaram a me cercar: tornei-me mais franca, apesar de ainda cuidadosa, tornei-me mais forte para expor situações e tornei-me alguém melhor, mais comedida e responsável, não apenas comigo mesma, mas também com as mulheres que me cercam. Pude trazer isso pra militância e passei em primeiro lugar a traçar limites, a estabelecer prioridades e estratégias, sem nunca desligar-me de alguns valores que aprendi com outras mulheres e os quais quero manter pro resto da vida. Mas assim como aprendi a lidar com algumas situações, ainda me perco em outras e foi exatamente isso que me trouxe um desgaste emocional grandioso.

Há algum tempo eu passei por uma situação que, talvez, para quem não estivesse perto de mim e não saiba o que eu estava passando por aquele período possa parecer drama e até mesmo um pouco de exagero, não me surpreenderia. O que se passou foi que fui exposta a uma situação em que me senti muito mal. Esse incomodo foi real pra mim, eu sofri (e ainda sofro) muito por aquela situação da qual eu tento desde sempre não me lembrar, mas que de alguma forma veio a tona novamente. Por nunca conseguir expressar o que me aconteceu porque algumas das pessoas com quem conversei não acham que minhas sensações seriam reais e reduziram aquilo a um simples mal entendido, me calei, e me calei também por respeito e temor das pessoas que poderiam e estariam envolvidas naquela situação. Eu nunca as procurei de fato para conversarmos sobre o que se passou, procurei apenas para esclarecer outros fatos, eu ainda não me sentia e nem me sinto preparada para lidar com isso, apesar de eu estar escrevendo sobre, pessoalmente, ainda não tenho forças para conseguir expressar o que senti naquele momento. Mas, porque eu estou dizendo isso? Porque aqui eu quero dizer que muitas feministas não levam o que algumas mulheres falam ou sentem tão seriamente, se calam ante a situações que são nocivas para algumas mulheres porque nestas situações muitas vezes estão envolvidas feministas que tem influência e que podem ser e são amigas pessoais umas das outras.

Então, eu gostaria, já finalizando esse texto (o qual estou chamando de suicídio politico e despedida do movimento) que vocês amadurecessem um pouco mais suas ideias sobre ética no movimento feminista, sobre passionalidade e passassem a traçar estratégias que possam ir ao encontro de todas as mulheres, que possam voltar atrás em suas opiniões e atos, analisa-los e se preciso for se posicionar de modo diferente quando houver possibilidade. Não coloquem suas amigas à frente quando se tratar de militância, cobrem postura quando necessário e sempre ouçam umas às outras, principalmente mulheres que já tem experiência e mais do que isso, vivência. Não depositem sua confiança 100% em outras mulheres, elas são passíveis de erro e mais do que isso, elas podem não ser quem vocês pensam que elas são. Mulheres também podem ferir e ser feridas, não passem por cima de seus limites para nada e não permitam que outras mulheres passem por cima. Tentem se manter fortes e tentem compreender as diferenças que suas vivências proporcionam, tentem não cair nas armadilhas de nossa socialização, desconstruam, antes de tudo, rivalidade, pensem na estética depois, não adianta desconstruir  estética quando ainda se mantém valores patriarcais. Deem voz a quem realmente deve ter voz: mulheres negras, periféricas, lésbicas, mães que são constantemente invisibilizadas dentro dos espaços feministas, que  parem de aplaudir ladainha de mulheres classe média alta e coloquem o dedo na ferida e se permitam sentir pra desconstruir. Aqui me desligo momentaneamente (ou não) do movimento feminista, mas continuo ao lado das mulheres que aprendi a amar e respeitar e permaneço aprendendo com tantas outras.

Marx.



Nenhum comentário:

Postar um comentário