terça-feira, 29 de agosto de 2017

Visibilidade?

Se ser visível é ser vista, eu prefiro não ser
Pois quando me veem, me chamam de suja
Pois quando me veem, me cospem na cara
Pois quando me veem, me tacam pedras caso esteja com minha namorada
Pois quando me veem, tiram as crianças de perto de mim, pois sou uma “má influência”
Pois quando me veem, me excluem de uma oportunidade de emprego por ser sapatão visível
Pois quando me veem, planejam me “corrigir sexualmente”
Pois quando me veem, tentam me devolver para o armário
Pois quando me veem, dizem que nasci errada e ao contrário, que prefere uma filha puta ou morta do que sapatão
Pois quando me veem, me matam a pauladas
Pois quando me veem, dizem que vou ser revistada por policial homem, já que quero ser um
Pois quando me veem, me desumanizam
Pois quando me veem, me desestabilizam
Me machucam
Me excluem
Me perseguem
Me diminuem
Se ser vista, é ser eternamente cidadã de segunda classe
É ter minhas pautas excluídas e nunca citadas
Isso é visibilidade?
29 de agosto, quem se lembra?
Nós que estamos aqui, mas e as que estão de fora?
Sabem que existe uma data nossa?
Sabem que existe alguém lutando pelas nossas pautas?
Elas conhecem essas pautas?
Quem somos nós nessa sociedade?
Um mero vislumbre do que sobrou da nossa sanidade
E ainda nos culpam
“Ninguém mandou querer ser sapatão”
“Finge que você não é que todo mundo vai gostar de você”
“Hoje em dia, se você é você mesma, você não consegue emprego”
E porque eu necessito ser outra pessoa para que todos me aceitem?
Porque preciso me esconder?

Isso é ser visível?
Se isso é ser visível, nós vamos mudar isso. Juntas.

Lacuna Rat.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Lesbianidade não é um produto

Lesbianidade não é um produto, não é comercializável. Não se pode mostra-la como algo que você adquire, pois estaremos mercantilizando nossa sexualidade, como se ela fosse um produto: você se cansa do seu produto atual e adquire um novo, com novas funções. Sexualidade é uma descoberta, e você não pode nem deve coloca-la como algo a se desconstruir ou construir. Você pode tentar se adequar aos padrões da sociedade e descobrir que na verdade gosta de mulheres, mas jamais pode começar a gostar de mulheres porque se cansou de homens e porque acha a lesbianidade uma arma contra o patriarcado. O pessoal é político, mas não pode ser o político a reger se você sente atração por mulheres ou não. 

O processo de mercantilização da lesbianidade tem se dado através da desconstrução da mulher enquanto ser, incluindo dentro do próprio movimento feminista. As pautas das lésbicas estão sendo cada vez mais afogadas por pautas liberais que distorcem a imagem do que é ser mulher, de como se dá o processo de ser nomeada enquanto mulher na nossa sociedade, e isso consequentemente respinga na luta lésbica, pois por já não nos enquadrarmos no que é ser mulher para a sociedade, o movimento feminista nos apaga de suas pautas de luta, e com a imagem do que é ser mulher sendo distorcida por movimentos liberais como o movimento queer, acaba que nós, lésbicas, somos vistas como não-mulheres, e nossa sexualidade é vista como inválida. Essa invalidação acaba por torna-la caricata, algo que pode ser adquirido, como unicamente um meio político de resistência, mas jamais como uma sexualidade válida, jamais o nosso sentimento por mulheres é visto como real. 

Ao sermos lésbicas, já estamos naturalmente resistindo, pois precisamos todos os dias sobreviver em uma sociedade lesbofóbica. Saimos de casa sem saber se voltaremos posteriormente. Mas resistir politicamente não pode ser o único motivo para sermos lésbicas. Ser lésbica não pode ser uma escolha que você pode de uma hora para a outra desfazer.

Além disso, nossa sexualidade não tem a ver com a existência ou não de homens, não somos lésbicas por causa dos homens, somos lésbicas porque nos relacionamos afetivo e sexualmente com outras mulheres, única e exclusivamente com mulheres. Somos lésbicas porque sentimos atração por mulheres, e nossa sexualidade não está à venda.

Por: Lacuna Rat