terça-feira, 25 de agosto de 2015

Visibilidade lésbica? Ou invisibilidade?

Estamos na semana da visibilidade lésbica, e, conforme manda o figurino, era para estarmos tendo nossas pautas levantadas, discutidas e respeitadas, era para estarmos tendo diversos eventos sobre nós, era para estarmos tendo textos sobre nós. Entretanto, somos esquecidas e invisibilizadas a tal ponto que nem mesmo na semana que deveríamos ser relembradas, o fazem.


Nós, lésbicas, temos a todo momento a nossa sexualidade apagada, seja por homens que nos fetichizam e não nos respeitam, seja pelo movimento LGBT que apaga lésbicas e não trata de nossas pautas, que joga nossas vivências pelo ralo e as trata como algo menos importante.


Mas, afinal, o que é ser visível? O que é visibilidade lésbica?


Visibilidade é termos espaço para falarmos de nós mesmas, de nossas vivências lésbicas, é podermos falar de prevenções sexuais para lésbicas, é conseguirmos que nos vejam como lésbicas e nos respeitem, e que não nos tratem como indecisas, modinha, desviantes que precisam ser “corrigidas”. Que tenhamos visibilidade na sociedade, ou seja, que sejamos reconhecidas enquanto lésbicas, e isso implicaria em não termos mais que ter medo de levarmos nossa namorada/companheira conosco a lugares, pois não correríamos mais o risco de sermos rechaçadas e agredidas, em não termos mais que justificar para pessoas heterossexuais o motivo de já termos nos relacionado com homens, e que isso não fizesse com que essas pessoas achassem que têm o direito de nos desrespeitar e de forçar-nos a conhecer homens, visto que, para essas pessoas, só estamos passando por uma fase “indecisa”.  É termos nossas relações respeitadas, é termos nossas relações vistas como relações, e não como “apenas duas amigas”, “colegas, é termos uma representatividade real, e não essas migalhas estereotipadas que a mídia nos dá como forma de calar a nossa boca. É não sermos forçadas a nos relacionarmos com as ditas “mulheres trans”, porque, afinal, lésbica se relaciona com mulher, mulher mesmo, aquela que nasceu com vagina, e não com quem possui um falo, é não sermos usadas por mulheres heterossexuais e bissexuais e depois descartadas, é não termos que explicar que ser butch e ser femme nada tem a ver com ser “passiva” ou “ativa”, pois sempre usam isso para transformar nossas relações em performances de relacionamentos heterossexuais.


E porque somos invisíveis?


Porque o patriarcado nega a nossa existência duplamente: por sermos mulheres e por sermos lésbicas. Não somos reconhecidas como mulheres na sociedade, somos vistas como mulheres que querem ser homens, que performam o gênero errado (isso dá margem para nos forçarem a acreditar que somos homens transsexuais. Há um texto sobre isso aqui no blog). Nós batemos de frente com o macho patriarcal apenas por existirmos, pois provamos que uma mulher não precisa se relacionar com um homem para ser completa. Ela não precisa de nada do que a sociedade heteropatriarcal impõe como felicidade, pois na verdade tudo isso que essa sociedade mostra só serve ao homem, e não a ela.


Somos invisíveis porque nossa visibilidade assusta e faz com que o macho patriarcal tenha medo de que a sua dominância caia. Somos invisíveis porque é mais fácil nos invisibilizar e fazer com que a heterossexualidade compulsória continue existindo do que nos visibilizar e libertar as mulheres da compulsoriedade heterossexual. Somos invisíveis porque a mulher não importa nessa sociedade, muito menos uma lésbica.


A existência lésbica é uma ameaça para o patriarcado, por isso somos invisibilizadas. A lesbiandade liberta a mulher das amarras patriarcais que servem ao homem, ela deixa a mulher livre para viver plenamente, e é por isso que temos nossa existência negada. O homem não quer que saibamos que é possível ser lésbica, que a heterossexualidade é um sistema de controle e que quem rege o mundo é o homem, e que este não se importa com nada além de si mesmo. Conforme disse Solanas (1967) “o macho é um egocêntrico total, um prisioneiro de si mesmo incapaz de empatizar ou de identificar-se com os outros, incapaz de sentir amor, amizade, afeto ou ternura. É um elemento absolutamente isolado, inepto para relacionar-se com os outros, suas reações não são cerebrais, mas viscerais; sua inteligência só lhe serve como instrumento para satisfazer seus impulsos e suas necessidades. Não pode experimentar as paixões da mente, as interações mentais, somente lhe interessam suas próprias sensações físicas. É um morto vivo, uma excrescência insensível impossibilitada de dar, ou receber, prazer ou felicidade. Consequentemente, e no melhor dos casos, é o cúmulo do tédio, é apenas uma bolha inofensiva, pois somente quem é capaz de absorver-se nos outros possui encanto. Preso a meio caminho numa zona crepuscular entre os seres humanos e os macacos, sua posição é muito mais desvantajosa que a dos macacos: ao contrário destes, apresenta um conjunto de sentimentos negativos – ódio, ciúmes, desprezo, asco, culpa, vergonha, incerteza – e, o que é pior: tem plena consciência do que ele é e do que não é.”
Mas dia 29, não é para bissexuais também?


Não, dia 29 de agosto é o dia que comemora, relembra e é dedicado ao 1º Senale (Seminário Nacional de Lésbicas) que ocorreu em 1996, bissexuais tem uma data especifica para que possam pedir por suas demandas. É importante frisarmos o quanto o 29 de agosto é representativo para a comunidade lésbica e o quanto ver outras pessoas, que não lésbicas, tentando usar deste dia é violento para lésbicas. Nós não temos espaço de fala em lugar algum, o movimento LGBT prioriza primeiramente as demandas e pautas de homens gays e mulheres transexuais (o que me intriga, já que mulheres transexuais também foram socializados enquanto homens, eu diria que rola broderagem?), nossas vivências tem sido constantemente desqualificadas e desmerecidas pelo movimento Feminista que tem se colocado de modo liberal ao adotar o discurso da bissexualidade e o “amor à pessoas” colocando, mais uma vez, lésbicas à marginalidade e as coagindo a se adequarem e se relacionarem com homens. O feminismo tem andado de mãos dadas com o movimento LGBT em busca de apagar e silenciar lésbicas e tem aderido ao discurso transativista de que lésbicas podem ser homens trans pelo simples fato de não se relacionarem com homens. Mulheres lésbicas tem sido constantemente perseguidas e excluídas por feministas com o intuito de as silenciarem  e desvincilharem a imagem do Feminismo das Lésbicas. Feministas tem buscado por aprovação de homens e, tem, efetivamente, afastado lésbicas do movimento.  O dia 29 de agosto não é relembrado por esses movimentos por se tratar de dar visibilidade e voz à mulheres marginalizadas. Não nos esquecem por acidente, nos esquecem porque andam de mãos dadas ao heteropatriarcado, porque incomodamos quando gritamos e nos impomos, incomodamos quando resistimos e quando nos negamos a nos adequar aos padrões destes movimentos. O dia 29 é pra relembrarmos que somos muitas e que quando nos unimos fazemos barulho, incomodamos e o patriarcado treme ante nossas palavras, ante nossos relacionamentos, ante nossa presença.

Sapatão
Fancha
Cola-velcro
Tesoura
Tribadista
Roçadeira
Caminhoneira
Butch
Femme
Lady
Subversão
Histórias não contadas
Histórias mal contadas
Histórias exterminadas
Violências sofridas
Violências vividas
Violências sentidas
Luta até a exaustão
Feridas abertas
Feridas cicatrizadas
Feridas anestesiadas
Pela dor
Pelo rancor
Por amor
Amor, amar
Amor, lutar
Amor, gritar
Amor, combater
Amor, sobreviver
Sobreviver e ser
Ser do bem
Ser do mal
Ser alguém
Ser marginal
Existir
Transgredir
Resistir
Ser. Lésbica.
Por: Lacuna Rat e Marx Lopes

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sobre Monogamia e não monogamia: olhares de duas lésbicas sobre relações

Uma visão lésbica sobre monogamia

Os modelos de relacionamento monogâmicos e não monogâmicos são constantemente discutidos em espaços feministas, porém há uma falha enorme ao analisar ambos os conceitos de um ponto de vista lésbico. O apagamento de lésbicas e a nossa constante comparação a homens não é nenhuma novidade para nós, o intuito desse texto é dar a minha visão de mulher lésbica e radical sobre a monogamia entre mulheres lésbicas.


       Pra começar uma discussão sobre monogamia entre lésbicas o primeiro passo a ser dado é deixar a heteronormatividade e deixar de lado esse pensamento de que a monogamia lésbica é de alguma forma, comparável à monogamia entre um homem e uma mulher. O conceito de monogamia, o conceito radical, sequer se encaixa as relações de exclusividade entre mulheres. Monogamia é um modelo de relacionamento criado com o único objetivo de facilitar a exploração de mulheres em um relacionamento sexual. A mulher, tratada como propriedade, pertencendo a um homem que a possui e a explora. A monogamia no conceito heterossexual é essencialmente uma relação de poder de cunho sexual homem-mulher em que uma mulher é pertencente a um homem que tem toda a liberdade social do patriarcado para explorar essa mulher de diversas formas.


        Tratar relacionamentos exclusivos entre mulheres da mesma forma que é tratada a monogamia heterossexual é o mesmo que afirmar que existe “um homem da relação” entre duas mulheres e nos mergulhar em heteronormatividade, pra variar. Relacionamentos lésbicos não são nem de longe horizontais, isso é uma falácia muito repetida e que tem que acabar. O grupo “mulher” não é um grupo homogêneo e existem várias formas para que um relacionamento entre mulheres seja desigual e potencialmente abusivo, sim. Mas ao dar à exclusividade entre mulheres o mesmo peso da monogamia heterossexual estamos criando um poder de dominação baseado em sexo que não existe entre mulheres. A relação de poder homem-mulher é algo que socialmente jamais vai se aplicar em um relacionamento lésbico.
    Existe, além dessa problemática, a nossa boa e velha socialização feminina. Mulheres são socializadas pra se sentirem um lixo, pra se sentirem ameaçadas e pra serem inseguras por outras mulheres. O discurso não monogâmico muitas vezes ignora essa variável e tende a demonizar mulheres que são “ciumentas” ou “inseguras” demais, quando na verdade é apenas a nossa socialização falando. Isso é cruel com essas mulheres, e isso tem que acabar. Há vários motivos dentro dessa socialização (e fora dela, também) que levam uma mulher a não se sentir segura em relacionamentos não monogâmicos, e isso não deve ser ridicularizado nem ignorado. Mulheres lésbicas já ultrapassam uma barreira profunda, dolorosa e enraizada, a heterossexualidade compulsória, para se relacionarem. Nós passamos um processo doloroso interno e externo, psicológico e social pra sequer começarmos a nos relacionar entre si. Nós resistimos a uma doutrinação profunda que tenta nos esmagar a partir do momento em que saímos dela, e dizer que de alguma forma relacionamentos exclusivos entre mulheres contribuem ou colaboram ao patriarcado não é apenas ofensivo, como doloroso à essas mulheres. A exclusividade entre mulheres, por si só, não é opressiva e esse não é um modelo menos correto de relacionamento do que outros. Aliás, sequer existe um modelo correto de relacionamento, estão todos passíveis a serem abusivos. Sendo abertos ou fechados.
     Qualquer relacionamento entre mulheres pode vir com uma carga grande de reproduções heteronormativas, o patriarcado é heteronormativo, isso é normal e passível de desconstruções. Reduzir um modelo de relacionamento, por si só, à heteronormatividade, ou a ser opressivo é uma ideia simplista e liberal. Os problemas nos relacionamentos entre mulheres e os motivos que os tornam propensos a serem abusivos vão muito além de um modelo de relacionamento, e reduzir todo o problema a isso, é ignorar todos os reais motivos que causam um relacionamento abusivo e heteronormativo entre mulheres. É simplista dizer que um relacionamento exclusivo entre mulheres não está passível a desconstruções de heteronormatividade. Da mesma forma que relacionamentos não monogâmicos podem ser abusivos e heteronormativos, relacionamentos monogâmicos também podem ser. E podem não ser.
    Mulheres, necessariamente, trazem uma grande carga emocional para um relacionamento. Isso é inerente à nossa socialização que nos expõe rotineiramente a traumas e abusos. O fato de duas mulheres, com essa carga que a vivência como mulher nos expõe (umas mais, outras menos), não se sentirem seguras com relacionamentos não monogâmicos não deve ser algo ridicularizado ou desqualificado. Não existe nenhuma hierarquia de poder sexual entre duas mulheres e nossos relacionamentos exclusivos são tão passíveis de desconstrução quanto qualquer outro.
   Eu, como qualquer outra lésbica não politizada, comecei um relacionamento monogâmico repleto de reproduções heternormativas e coisas problemáticas, que com muito trabalho e com muito apoio entre as partes foi possível a desconstrução de muitas coisas. O modelo de relacionamento não influenciou minha capacidade de desconstrução de algo como, o ciúme. O ciúme entre mulheres não pode e nem deve ser comparado ao ciúme de um homem para uma mulher. O ciúme vindo de uma mulher é nada além de um reflexo direto da nossa socialização que tem muito sucesso fazer com que mulheres se sintam um lixo e, consequentemente, se tornem inseguras sobre si mesmas. O ciúme masculino é nada além de um senso de propriedade sobre uma mulher. Novamente, requer deixarmos de lado a comparação entre lésbica e homem. Nada lésbico é comparável a nada masculino. Mulheres lésbicas possam reproduzir misoginia da mesma forma que qualquer outra mulher, e não devemos nos penalizar sobre isso somente por sermos lésbicas. A misoginia que nós reproduzimos nos nossos relacionamentos (que não é nem de longe exclusividade de um ou outro modelo de relacionamento) pode, sim, ser desconstruída. E um relacionamento exclusivo entre duas mulheres pode, sim, ter limites e respeito aos espaços individuais e às nossas liberdades.
    Manter um relacionamento não é simples, requer cuidado, dedicação à sua parceira. Requer toda uma carga emocional. Quando esse é um relacionamento lésbico tudo é ainda mais atenuado. São duas mulheres que são rechaçadas socialmente, apagadas de espaços e levam um dia a dia passível de violências lesbofóbicas pelo simples fato de existirem e de estarem juntas. A não monogamia requer desconstruções prévias a serem feitas antes de se entrar nesse modelo de relacionamento, e essas desconstruções nem sempre são possíveis dentro da realidade de muitas mulheres, e nós não devemos ser desmerecidas por isso, devemos ser respeitadas. Não vejo a problemática em duas mulheres com cargas emocionais pesadas se sentirem seguras apenas uma com a outra, se dedicarem a cuidarem uma da outra dentro de uma sociedade patriarcal e lesbofóbica. Os relacionamentos lésbicos, essencialmente, vão contra o patriarcado, vão contra a nossa doutrinação de heterossexualidade compulsória e vão contra a dominação masculina dos nossos corpos. A existência lésbica, independente de politizada ou não, é uma existência política. A união, o afeto e o companheirismo entre mulheres desestabilizam e afrontam ao patriarcado. O amor lésbico é revolucionário por si só de diversas formas. Um modelo de relacionamento não é uma sentença para heteronormatividade e nem pra que ela não possa ser desconstruída. Há de se ouvir as lésbicas exclusivas, pararem de nos taxar de colaboracionistas ou de menos radicais por tomarmos a única decisão de nos preservar de algo que vai além dos nossos limites de desconstrução. Portando, a heteronormatividade entre lésbicas pode (e deve) ser desconstruída. Independente de modelos de relacionamentos.


Uma crítica a não monogamia na prática

            Bom, eu tenho discutido muito sobre não monogamia e a forma como se tem discursado e praticado esse tipo de relação. Eu mantive uma relação não monogâmica por cerca de um ano e me tornei adepta e entusiasta do discurso, porém, tenho algumas críticas a fazer.

            Para que eu fale sobre não monogamia eu não preciso necessariamente desqualificar a monogamia porque estou falando de relações lésbicas. Não vejo como uma relação lésbica monogâmica possa ser enquadrada como enquadro relações heterossexuais, não há hierarquia de poder e dominação sexual nas relações lésbicas, pode haver outros recortes como idade, classe social e etnia, pode haver reprodução de heteronormatividade (quais são as nossas bases para relações? O que aprendemos e vemos desde crianças se não a representação de uma figura masculina e outra feminina nas relações? Ou seja, quem domina e quem é dominado), porém, a reprodução de heteronormatividade não ocorre apenas em relações monogâmicas como também ocorre em relações não monogâmicas.

            Então vou dar um breve resumo daquilo que li sobre não monogamia e amor livre. Bom, o amor livre apareceu no século XIX, idealizado por anarquistas para que suas relações fugissem daquilo que o Estado católico-burguês exigia: um núcleo familiar, onde a mulher era propriedade do homem e onde se visava à manutenção de poder. Bom, os anarquistas adotaram o amor livre como forma de desestabilizar aquilo que o Estado esperava de um núcleo homem-mulher. Bom, a mulher aqui era vista como propriedade e, na teoria, a mulher passaria a deixar de ser propriedade de um homem e teria por direito a igualdade de relações afetivas e sexuais de seu parceiro. Mas devo lembrar sempre que, falando de relações heterossexuais, homens nunca foram monogâmicos, sempre tiveram direito e acesso a corpos femininos, o patriarcado nunca lhes tirou esse direito, o amor livre seria apenas a prática desses homens sendo colocada em teoria e passada a mulheres. (Vou apenas ressaltar que qualquer relação heterossexual serve apenas aos homens uma vez que a heterossexualidade é regime político de dominação de homens sobre mulheres, mas esse não é o foco deste texto).

            Mas e aí, e as relações entre lésbicas?
            Bom, ao longo da minha curta caminhada enquanto lésbica feminista já me deparei com muitas outras lésbicas não monogâmicas. Desenvolvi minha própria forma de encarar, teorizar e praticar a não monogamia, fora dos padrões heteronormativos. Eu digo sempre que a não monogamia consiste em criar laços: afetivos, românticos e sexuais. Coloco primeiramente a afetividade como arma de maior potência. Nós somos ensinadas a nos odiar, a ver como inimigas nossas iguais e nossos laços afetivos são sempre colocados em dúvida pelo patriarcado com o discurso de que mulheres não são capazes de criar laços entre si. Não é verdade, o que ocorre é que mulheres quando criam laços entre si se tornam fortes e assim rompem com o opressor. Depois coloco a romantização através dos laços afetivos, isso pode vir a acontecer ou não, depende das mulheres envolvidas. O que ocorre é que podemos sim nos envolver romanticamente com outras mulheres (e quando digo romanticamente não estou fazendo ligação ao amor romântico que o patriarcado nos impõe, mas sim uma relação além da afetividade) e por ultimo eu cito as relações sexuais que não vejo como primordiais, mas sei que temos a necessidade de nos ligar também sexualmente a outras mulheres. O que diferencia a monogamia da não monogamia, além de outras nuances, é o fato de não haver exclusividade em relação aos laços românticos e sexuais, para além disso, sinto que a não monogamia me possibilita um estreitamento de laços afetivos muito maior e livre de qualquer impedimento de ser vivenciado de forma romântica ou não.

            Aqui entra minha primeira e ferrenha critica aos discursos pró não monogamia que ando vendo por aí, estamos tratando a não monogamia como se fosse apenas consumo de corpos por sexo. Esse discurso pró sexo livre, pró liberdade além de liberal é um discurso de risco para saúde de mulheres lésbicas. Liberal porque não há nada de revolucionário no consumo de corpos e apenas isso. O patriarcado espera que nós apenas nos relacionemos sexualmente porque o afeto entre mulheres é um risco ao sistema heteronormativo, então não há revolução em algo que o sistema já espera de nós. Não estou dizendo para que paremos de nos relacionar sexualmente, mas para que problematizemos o discurso do sexo livre e do porque nos incomoda tanto nos ligarmos a outras mulheres através da afetividade além do sexo. Estamos reproduzindo discurso heteronormativo e patriarcal. Um risco à saúde porque não temos acesso a métodos de proteção para relações sexuais. Nós não existimos para o Estado, o Estado não disponibiliza para nós métodos eficazes de proteção, então, ter várias parceiras sexuais é também se colocar e coloca-las em risco. Precisamos nos responsabilizar em relação à nossa saúde sexual e de nossas companheiras.

Eu queria lembrar que nós trazemos conosco uma grande carga de marcas e traumas emocionais, como qualquer outra mulher. Também levamos conosco inseguranças e lições sobre relacionamentos que o patriarcado inseriu a cada uma de nós ao longo de nossas vidas, como vencemos isso e como desconstruímos cabe a cada uma de nós, individualmente e em conjunto, mas é necessário que saibamos que nós não estamos livres de certas reproduções de sentimentos e ações, é hipocrisia afirmar que a não monogamia é a solução para todos os problemas relacionados à questão de relacionamentos entre mulheres, porque não é. Aqui, cabe minha segunda critica: muitas mulheres lésbicas adeptas da não monogamia acham que esse tipo de relação é a salvação em relação a reproduções de certos padrões de ações e sentimentos, como o ciúme. Não é. Vou focar no ciúme, como exemplo. O ciúme entre mulheres nada mais é do que insegurança, porque nos foi ensinado que nós não temos o domínio de nossas emoções, de que somos fracas e de que para manter a outra ao lado é necessário que ela esteja satisfeita, do contrário, ela poderá ir embora optando por outra mulher que supra aquilo que não suprimos. Ora, se a não monogamia se baseia em manter relações afetivas, românticas e sexuais com outras mulheres, como podemos fazê-lo ainda alimentando essa insegurança? Por experiência pessoal eu respondo: não podemos. É preciso que desconstruamos primeiro nossas inseguranças, as analisemos e percebamos suas origens antes que decidamos optar pela não monogamia, quando eu percebi o que me causava certas inseguranças eu demorei muito tempo para desconstrui-las e envolver mais mulheres nisso causou rompimentos e perdas. Obviamente que estamos sempre em processo de desconstrução, mas é preciso responsabilidade e maturidade para saber se já existe segurança para então desenvolver uma relação não monogâmica que vá além do sexo, como já falei acima.

É preciso que estejamos em constantes discussões e debates sobre relações não monogâmicas para que possamos ir além do que discursos de sexo livre e de salvação. A não monogamia consiste em relações, entre duas ou mais mulheres e é necessário que tenhamos sempre em vista que nossas relações devem quebrar e ir além das barreiras já impostas pelo patriarcado, que nossos discursos precisam ir além dos discursos heteronormativos e que nossas relações, monogâmicas ou não, são a chave para a revolução contra o patriarcado. Sem compreendermos a importância e a eficácia de nossas relações para além do campo individual e pessoal não sairemos do lugar e permaneceremos achando o máximo uma série de ações reformistas. Lésbicas são as mulheres que conseguem fazer com que o “pessoal é politico” seja oficializado através de suas relações, incluir nessas relações discursos heteronormativos, liberais e reformistas faz com que nossa luta seja retardada, precisamos ir além do conforto.

Por: Iolanda Brasil e Marx Lopes.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Mensagem da Formiga pra sua mana (Texto)

não vou fazer feminismo kom homem mas o levante é di periferia e
entendo elas direcionar as forças
delas pra edukar homem porke são eles kem tão no dia a dia kom ela
mas essa não é minha função
não kero dar minha energia pra isso
vc sabe melhor do ke eu ke os pobres precisam retirar o privilégio dos
rikos e é a mesma koisa
em relação ao povo preto e indígena e em relação as mulheres são @s
oprimidos ke tem ke ser linha di frente

misogina é esta sociedade ke explora mulheres inklusive eu não odeio
homens odeio a dominação maskulina ke difukulta o meu desenvolvimento
komo pessoa em minhas relações interpessoais
não saber trokar ideia kom homem é fruto de vários trauma ke o
patriarkado kolokou em mim acho mais produtivo aprender a me kuidar me
kurar e konstruir koletividade kom mulher
do ke perder tempo kom ódio aos homens
eskrevo misandria komo ironia tipo
Em Legítima Defesa da Elizandra Souza
ou Die Die da Dominatrix
komo ironia komo ódio de ser oprimida milenarmente
e não vê as koisas mudar kuando o Ba kimbuta fala di misândria as preta
delira né ( matem us kovarde e eskeça as aliança... ke elas matem os homens
kuando necessário)
mas kuando é formigão aki não é zuado é facista ai karai
por diskordar de ke gênero não é uma koisa natural e sim konstruída para
a dominação patriarkal
não signifika ke apoio violência kontra pessoas trans pelo kontrario
acho ke tem ke ser reunir se fortalecer e kombater

konkordo ke foi mankada minha fikar kom us livro esse tempo todo
konkordo kom várias kritikas ke vc fez ao meu komportamento komo falta
de apoio mutuo e solidariedade mas facista não
o meu inimigo é o mesmo ke o seu homem branko heterossexual da classe A
porke
em beneficio dele ke mulheres são violentadas
homens negros são mortos e homossexuais são dikriminados
só ke tenho outras estrtégia de luta por ser sapatão e precisar
ter koletividade kom as mana
vai fazer muita falta ouvir seus saberes
eu acho ke facismo é um sistema polítiko e ekonomiko ke um individuo
ou grupo domina toda uma sociedade prega o homem a guerra o nacionalismo
o problema pra mim não é gostar de homem o problema é ke o patriarkado
impõe isso pras mulheres.
Sendo lésbika e entendendo isso komo uma
arma antipatriarkal, isso é ser facista? Eu não tô impondo isso pra
ninguém.
Kritiko o apagamento do movimento lésbiko e bissexual
ke vê apenas komo sexualidade. Eu kero sim destruir sexismo.
Mas acho utopia akreditar ke todas as mulheres vão virar lésbika pra
destruir o patriarkado
Meu projeto polítiko é dar força pra mulheres e lésbikas.


Kero me reunir só entre lésbikas em alguns momentos pra se rekuperar da
lesbofobia kotidiana, promover laços de solidariedade entre mulheres
kriar espaço de socialização lésbika antimerkantil, trokar karinho kom
uma mana das uns beijo e pá
sentir prazer é dar alegria pra minha Kor-pA lésbika pra dai eu ter força
pra kombater
Tenho difikuldade de trokar ideia kom homem mas não deixo de ler Akins
Kinte e kurtir Racionais
porke sei ke em relação a anti racismo e anti elitismo homens pretos
indigenas e pobres
também são meus aliados
mas akontece ke eu tenho difikuldade de konviver foram muitos trauma
di violência masculina
Komo ki vou somar kom us manos se tem mulher sendo morta na mão dos
homens?
Preciso konfiar neles e pra konfiar não pode ter sexismo e no momento
é u ke ta tendo
Infelizmente preciso denunciar isso dai
Eu sei tenho várias falhas várias mankada mas não vou anular as poukas
koisa boas ke fiz na polítika
a únika koisa ke tem di bom dentro di mim é a u amor sabedoria di
preto e preta velha
meu mestrão sempre fala não é vc ke eskolhe a kapoeira é kapoeira ke te
eskolhe
só vou sair se ela me mandar embora
du kontrario vou ser kapoeira até se eu fikar sem perna pra jogar
todo koração é um tambor só vou deixar de tokar kuando meu koração parar
vivência no terreiro é destino se eu tiver u dom se for meu kaminho
eu vou seguir
porke eu sei ke tem signifikado de libertação

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Representatividade lésbica: o que a mídia faz para nos calar.

Lésbicas acreditam que o que temos hoje na mídia é representatividade lésbica.  Esta nos mostra um estereótipo de lésbica cujo padrão se estabelece dentro da “lésbica feminina, branca, de classe média-alta”, ou na “lésbica que é o “homem” da relação”; vemos isso em filmes com cenas de sexo que tornam o filme em um pornô lésbico voltado para o consumo de machos heterossexuais, e em novelas sendo representadas de forma que não condiz com a realidade.

Nós não precisamos de uma mídia oportunista que nos dê estilhaços de representatividade. Afinal, essa nem é a nossa representatividade real. Lésbicas não são todas iguais como a mídia mostra. Não fazemos um papel dentro de um relacionamento, não seguimos padrões. Nós devemos rejeitar isso que chamam de representatividade e que nos apaga, que apaga a nossa cultura e raízes.

“Mas e quanto às mulheres que moram em cidades isoladas e o único acesso delas para saber que lésbicas existem é através da televisão?” ·.

Ainda continua não sendo representatividade. Essa lésbica, que ainda não se descobriu, irá reproduzir aquilo que a televisão mostrou a ela como o que é ser lésbica, e isso é grave. Ela reproduzirá um estereótipo de lésbica, que caso não seja o da lésbica feminina e frágil, será o da lésbica que reproduz machismo e misoginia, pois é isso que o patriarcado nos mostra: ou somos femininas frágeis ou somos “hominhos”, como eles dizem (é aí que então se cria o pensamento de que em relacionamento lésbico há aquela que faz papel de homem e a que faz papel de mulher). Isto pode ser chamado de representatividade, afinal? Como poderíamos chamar isso? Eu diria que essa seria uma fonte através da qual essa mulher se dará conta de que ela é lésbica, mas não diria que isso seria representatividade para ela. É triste imaginar que esta é a única fonte pela qual muitas mulheres se darão conta de que são lésbicas, pois elas invariavelmente reproduzirão os padrões estabelecidos por essa mídia. Representatividade seria se a cultura lésbica não tivesse sido massacrada com o passar dos anos, e sim respeitada e alimentada. Representatividade seria não sexualizar as lésbicas na mídia, não estabelecer um padrão lésbico, um padrão de namoro lésbico (a que é o homem da relação e a que é a mulher da relação). Representatividade seria se nos dessem voz, e se todas as mulheres tivessem acesso a essa real representatividade e soubessem que é possível, sim, ser lésbica sem ter que passar por esse padrão estabelecido pela mídia oportunista. Ou seja, o que a mídia faz para essas mulheres com pouco acesso não é representatividade.

Afinal, o que podemos fazer para que isto mude?

Devemos ir atrás de nossas raízes lésbicas, devemos pesquisar sobre nossa história, cultura e devemos acima de tudo ter consciência do quão difícil será resgatar tudo isso, mas não devemos desistir. Devemos começar a partir de agora a produzirmos nossa cultura de onde ela parou, e não permitir que os patriarcas façam isso por nós e nos definam de acordo com os seus interesses. Devemos ter consciência de que a cultura patriarcal não nos representa e não nos inclui, e a partir disso devemos rejeitar estilhaços de representatividade que o patriarcado nos oferece para que nos calemos e nos conformemos, para que acreditemos que finalmente fomos respeitadas, quando, na verdade, só estão procurando uma maneira de nos silenciar. Devemos fazer com que a cultura lésbica se espalhe, mesmo que isso não seja fácil.


Acima de tudo, não devemos alimentar a mídia. Não devemos permitir que ela nos cale e que mais uma vez nos impeça de irmos atrás de nossas raízes e de criarmos nossa representatividade. 

Por: Lacuna Rat

sábado, 1 de agosto de 2015

Porque a teoria queer apaga as lésbicas e porque você deveria repensar o que está seguindo.

É preciso que haja um papel de gênero reafirmado na sociedade para que exista a identidade de gênero, visto que, para a Teoria Queer, existem papeis sociais designados a homens e mulheres.

Uma vez que alguém esteja “performando” masculinidade, uma vez que alguém rejeite a sua vagina, uma vez que alguém aja de forma máscula, uma vez que alguém se sinta incoerente ao seu gênero por tudo o que foi citado, você passa a ser homem trans. Uma vez que você rejeite a feminilidade, você passa a ser homem trans. E feminilidade não está só ligado à vestimenta, mas também a comportamentos ditos intrinsecamente femininos, e uma vez que você os rejeita, a teoria diz que você possivelmente está passando por uma desconformidade de gênero. Ela te apresenta pontos que reafirmam a sua disforia, ela não trabalha para que a sua disforia deixe de existir e nem explica o porquê você poderia estar passando por isso. Ela quer reafirma-la para te convencer de que você só está passando por uma desconformidade de gênero, sem nem ao menos questionar o que você está passando.

Nós, mulheres, sofremos gravemente com a misoginia internalizada. Desde que nascemos somos ensinadas que é errado conhecermos nossas vaginas, que isso é impuro e pecaminoso. Somos ensinadas a não conhecermos o que nos faz bem e agrada, e sim o que agrada o outro. Somos ensinadas a odiarmos umas as outras, e assim aprendemos a também nos odiar, uma vez que esse ódio entre mulheres é estimulado. E temos como um aprisionamento a mais, o padrão de beleza, que também nos faz rivalizar. Este nos ensina que a outra sempre será melhor do que você e por isso é uma ameaça, e isso nos faz sentir inferiores à outra e logo nos sentimos péssimas conosco. Olhamo-nos no espelho e não sentimos que fazemos parte daquele corpo, sentimos que ele não nos pertence, que é errado. Odiamos o que vimos, pois fomos ensinadas a odiar, odiamos o que sentimos, pois fomos ensinadas que somos seres frágeis e passivos. Desejamos ser como o homem, que é um ser confiante, coerente e racional. Desejamos ter as qualidades dele, que nos ensinaram que é do homem, e não nossa.  Odiamos o que vimos, pois percebemos que não somos femininas, e vemos que quem não é como nós é o homem. Este, por sua vez, retrata tudo aquilo que nos ensinaram que não temos, e por isso o veneramos. Por isso nos odiamos, porque nos foi ensinado que tudo o que somos é negativo, errado e supérfluo, e que tudo que vale a pena está no homem. Então nós começamos a querer ser como o homem, nos espelhamos nele, e acreditamos que já que não condizemos com o que nos foi ensinado, é porque não estamos no corpo certo. Acreditamos que o fato de odiarmos nossas vaginas, de querermos ter um pênis, é normal. É aí que a teoria queer entra e te diz que isso é disforia e nos mostra a solução para isso reforçando ainda mais os estereótipos de gênero. Nós não cogitamos o fato de que somos mulheres que rejeitam a feminilidade, que rejeitam a passabilidade hetero, que rejeitam o que nos foi ensinado como certo, que estamos questionando o que a sociedade tem ensinado às mulheres como certo ou errado. Não percebemos que sentimos vergonha de termos uma vagina porque nos foi ensinado a termos vergonha de nossa vagina, não percebemos que admiramos o falo porque nos foi ensinado que aquele é o órgão a ser venerado, e também porque a ele foi dado poder, pois é com o falo que os homens conquistam o que querem. Ligamos o falo a tudo aquilo que nos foi ensinado como sendo características do homem, que são características de poder e dominância, e ligamos a vagina a todas as características que nos foram ensinadas como sendo da mulher, que são características que nos ensinaram que são fracas, sem sucesso, que não levam a lugar nenhum.

Isso nada mais é do que a reafirmação de estereótipos de gênero. Para existir um transexual, é necessário que exista também um estereótipo de gênero que o permita imitar e, assim, dizer-se daquele gênero. Isso valida a existência de mulheres trans, pois estas performam a perfeita feminilidade, reforçam o mais concreto estereótipo de gênero. Isso faz com que mais lésbicas, principalmente as butches, se sintam incoerentes com o seu gênero simplesmente por não performarem a feminilidade, por terem misoginia internalizada.

Isso também dá margem para o apagamento lésbico. Uma vez que esteja confirmada a existência de mulheres com pênis, vulgo mulheres trans, também se exige de lésbicas que se relacionem com tais mulheres. Entretanto, um relacionamento lésbico é composto de duas mulheres com vagina, cujo sexo não inclui um pênis, e cujo afeto é de mulher para mulher. Um relacionamento entre mulheres difere-se de um com homens não só no âmbito sexual, mas também no emocional e afetivo. Homens são socializados para dominar, para fazerem de tudo para conquistar, não aceitar um não como resposta, para convencer, enganar, para acreditarem que podem ter tudo o que querem. Ou seja, homens agem de acordo com o que querem sem pensar na companheira, e é exatamente isso que homens fazem no queer. Estes se dizem mulheres e aproveitam dessa nomeação para coagirem lésbicas a se relacionarem com eles, e caso elas neguem, não tachadas de transfóbicas e genitalizadoras. Mas, afinal, ser lésbica não é se relacionar com outra mulher? Porque então uma lésbica deveria desejar relacionar-se com alguém que é “mulher” e possui pênis?

“Mas existem mulheres trans que foram operadas, Papo Reto no Brejo. E agora, hein?”

Essas pessoas foram socializadas como homens, e elas (essas pessoas) continuarão a ser homens. Tendo ou não mais o falo, a socialização continuará existindo. O fato de não terem mais o falo não muda o fato de que essas pessoas ainda possuem poder sobre a mulher, que ainda possuem privilégios na sociedade, pois até uma “mulher trans” é mais respeitada do que uma mulher, mulher mesmo. Basta ver o quanto é falado de mulheres trans, o quanto elas têm voz no movimento feminista, mais voz até do que as próprias mulheres, mulheres mesmo. Inclusive elas possuem o poder de reivindicar que uma lésbica fique com elas. Deve ser porque foram pessoas socializadas como homens e ensinadas que um não nunca é não e nunca deve ser respeitado. Ou seja: são homens, tendo um falo ou não.

“Mulheres trans” também podem reclamar quando uma mulher fala de seu útero, menstruação, quando ela diz amar a sua vagina ou quando está passando por algum momento difícil e reclama.

“Pelo menos você tem útero.”

“Você está sendo genitalizadora.”

“Pare de falar de vagina, isso é genitalizador”

“Lá vem ela falar de menstruação. Eu não menstruo, isso é acionador para mim, sabia?”

As mulheres continuam não tendo espaço para falarem de si mesmas. Lésbicas continuam não tendo espaço para falarem de suas vivências e corpos, o que faz com que cada vez mais mulheres estejam se conhecendo menos e se odiando mais e sendo cada vez mais levadas para dentro do queer, sendo ludibriadas por uma teoria apagadora que as fará acreditar que são um homem, que as levará a normalizar a repulsa que sentem por si mesmas.



É necessário que as lésbicas deixem de ter medo de falar de si mesmas, de suas vivências, que deixem de se colocar em segundo plano e deixem de se anular por homens que dizem serem mulheres e que as levam a acreditar que seus corpos e vivências não importam tanto quanto o corpo e vivências deles. É necessário que lésbicas deixem de cair na armadilha queer, que deixem de ter medo de questionar, que ouçam menos o que o queer tem a dizer. É necessário desconstruir os estereótipos de gênero, e não reafirmá-los. Você não é um homem, sapatão. Você é mulher. Você é lésbica. 

Por: Lacuna Rat