terça-feira, 29 de agosto de 2017

Visibilidade?

Se ser visível é ser vista, eu prefiro não ser
Pois quando me veem, me chamam de suja
Pois quando me veem, me cospem na cara
Pois quando me veem, me tacam pedras caso esteja com minha namorada
Pois quando me veem, tiram as crianças de perto de mim, pois sou uma “má influência”
Pois quando me veem, me excluem de uma oportunidade de emprego por ser sapatão visível
Pois quando me veem, planejam me “corrigir sexualmente”
Pois quando me veem, tentam me devolver para o armário
Pois quando me veem, dizem que nasci errada e ao contrário, que prefere uma filha puta ou morta do que sapatão
Pois quando me veem, me matam a pauladas
Pois quando me veem, dizem que vou ser revistada por policial homem, já que quero ser um
Pois quando me veem, me desumanizam
Pois quando me veem, me desestabilizam
Me machucam
Me excluem
Me perseguem
Me diminuem
Se ser vista, é ser eternamente cidadã de segunda classe
É ter minhas pautas excluídas e nunca citadas
Isso é visibilidade?
29 de agosto, quem se lembra?
Nós que estamos aqui, mas e as que estão de fora?
Sabem que existe uma data nossa?
Sabem que existe alguém lutando pelas nossas pautas?
Elas conhecem essas pautas?
Quem somos nós nessa sociedade?
Um mero vislumbre do que sobrou da nossa sanidade
E ainda nos culpam
“Ninguém mandou querer ser sapatão”
“Finge que você não é que todo mundo vai gostar de você”
“Hoje em dia, se você é você mesma, você não consegue emprego”
E porque eu necessito ser outra pessoa para que todos me aceitem?
Porque preciso me esconder?

Isso é ser visível?
Se isso é ser visível, nós vamos mudar isso. Juntas.

Lacuna Rat.