terça-feira, 4 de agosto de 2015

Representatividade lésbica: o que a mídia faz para nos calar.

Lésbicas acreditam que o que temos hoje na mídia é representatividade lésbica.  Esta nos mostra um estereótipo de lésbica cujo padrão se estabelece dentro da “lésbica feminina, branca, de classe média-alta”, ou na “lésbica que é o “homem” da relação”; vemos isso em filmes com cenas de sexo que tornam o filme em um pornô lésbico voltado para o consumo de machos heterossexuais, e em novelas sendo representadas de forma que não condiz com a realidade.

Nós não precisamos de uma mídia oportunista que nos dê estilhaços de representatividade. Afinal, essa nem é a nossa representatividade real. Lésbicas não são todas iguais como a mídia mostra. Não fazemos um papel dentro de um relacionamento, não seguimos padrões. Nós devemos rejeitar isso que chamam de representatividade e que nos apaga, que apaga a nossa cultura e raízes.

“Mas e quanto às mulheres que moram em cidades isoladas e o único acesso delas para saber que lésbicas existem é através da televisão?” ·.

Ainda continua não sendo representatividade. Essa lésbica, que ainda não se descobriu, irá reproduzir aquilo que a televisão mostrou a ela como o que é ser lésbica, e isso é grave. Ela reproduzirá um estereótipo de lésbica, que caso não seja o da lésbica feminina e frágil, será o da lésbica que reproduz machismo e misoginia, pois é isso que o patriarcado nos mostra: ou somos femininas frágeis ou somos “hominhos”, como eles dizem (é aí que então se cria o pensamento de que em relacionamento lésbico há aquela que faz papel de homem e a que faz papel de mulher). Isto pode ser chamado de representatividade, afinal? Como poderíamos chamar isso? Eu diria que essa seria uma fonte através da qual essa mulher se dará conta de que ela é lésbica, mas não diria que isso seria representatividade para ela. É triste imaginar que esta é a única fonte pela qual muitas mulheres se darão conta de que são lésbicas, pois elas invariavelmente reproduzirão os padrões estabelecidos por essa mídia. Representatividade seria se a cultura lésbica não tivesse sido massacrada com o passar dos anos, e sim respeitada e alimentada. Representatividade seria não sexualizar as lésbicas na mídia, não estabelecer um padrão lésbico, um padrão de namoro lésbico (a que é o homem da relação e a que é a mulher da relação). Representatividade seria se nos dessem voz, e se todas as mulheres tivessem acesso a essa real representatividade e soubessem que é possível, sim, ser lésbica sem ter que passar por esse padrão estabelecido pela mídia oportunista. Ou seja, o que a mídia faz para essas mulheres com pouco acesso não é representatividade.

Afinal, o que podemos fazer para que isto mude?

Devemos ir atrás de nossas raízes lésbicas, devemos pesquisar sobre nossa história, cultura e devemos acima de tudo ter consciência do quão difícil será resgatar tudo isso, mas não devemos desistir. Devemos começar a partir de agora a produzirmos nossa cultura de onde ela parou, e não permitir que os patriarcas façam isso por nós e nos definam de acordo com os seus interesses. Devemos ter consciência de que a cultura patriarcal não nos representa e não nos inclui, e a partir disso devemos rejeitar estilhaços de representatividade que o patriarcado nos oferece para que nos calemos e nos conformemos, para que acreditemos que finalmente fomos respeitadas, quando, na verdade, só estão procurando uma maneira de nos silenciar. Devemos fazer com que a cultura lésbica se espalhe, mesmo que isso não seja fácil.


Acima de tudo, não devemos alimentar a mídia. Não devemos permitir que ela nos cale e que mais uma vez nos impeça de irmos atrás de nossas raízes e de criarmos nossa representatividade. 

Por: Lacuna Rat

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