sábado, 1 de agosto de 2015

Porque a teoria queer apaga as lésbicas e porque você deveria repensar o que está seguindo.

É preciso que haja um papel de gênero reafirmado na sociedade para que exista a identidade de gênero, visto que, para a Teoria Queer, existem papeis sociais designados a homens e mulheres.

Uma vez que alguém esteja “performando” masculinidade, uma vez que alguém rejeite a sua vagina, uma vez que alguém aja de forma máscula, uma vez que alguém se sinta incoerente ao seu gênero por tudo o que foi citado, você passa a ser homem trans. Uma vez que você rejeite a feminilidade, você passa a ser homem trans. E feminilidade não está só ligado à vestimenta, mas também a comportamentos ditos intrinsecamente femininos, e uma vez que você os rejeita, a teoria diz que você possivelmente está passando por uma desconformidade de gênero. Ela te apresenta pontos que reafirmam a sua disforia, ela não trabalha para que a sua disforia deixe de existir e nem explica o porquê você poderia estar passando por isso. Ela quer reafirma-la para te convencer de que você só está passando por uma desconformidade de gênero, sem nem ao menos questionar o que você está passando.

Nós, mulheres, sofremos gravemente com a misoginia internalizada. Desde que nascemos somos ensinadas que é errado conhecermos nossas vaginas, que isso é impuro e pecaminoso. Somos ensinadas a não conhecermos o que nos faz bem e agrada, e sim o que agrada o outro. Somos ensinadas a odiarmos umas as outras, e assim aprendemos a também nos odiar, uma vez que esse ódio entre mulheres é estimulado. E temos como um aprisionamento a mais, o padrão de beleza, que também nos faz rivalizar. Este nos ensina que a outra sempre será melhor do que você e por isso é uma ameaça, e isso nos faz sentir inferiores à outra e logo nos sentimos péssimas conosco. Olhamo-nos no espelho e não sentimos que fazemos parte daquele corpo, sentimos que ele não nos pertence, que é errado. Odiamos o que vimos, pois fomos ensinadas a odiar, odiamos o que sentimos, pois fomos ensinadas que somos seres frágeis e passivos. Desejamos ser como o homem, que é um ser confiante, coerente e racional. Desejamos ter as qualidades dele, que nos ensinaram que é do homem, e não nossa.  Odiamos o que vimos, pois percebemos que não somos femininas, e vemos que quem não é como nós é o homem. Este, por sua vez, retrata tudo aquilo que nos ensinaram que não temos, e por isso o veneramos. Por isso nos odiamos, porque nos foi ensinado que tudo o que somos é negativo, errado e supérfluo, e que tudo que vale a pena está no homem. Então nós começamos a querer ser como o homem, nos espelhamos nele, e acreditamos que já que não condizemos com o que nos foi ensinado, é porque não estamos no corpo certo. Acreditamos que o fato de odiarmos nossas vaginas, de querermos ter um pênis, é normal. É aí que a teoria queer entra e te diz que isso é disforia e nos mostra a solução para isso reforçando ainda mais os estereótipos de gênero. Nós não cogitamos o fato de que somos mulheres que rejeitam a feminilidade, que rejeitam a passabilidade hetero, que rejeitam o que nos foi ensinado como certo, que estamos questionando o que a sociedade tem ensinado às mulheres como certo ou errado. Não percebemos que sentimos vergonha de termos uma vagina porque nos foi ensinado a termos vergonha de nossa vagina, não percebemos que admiramos o falo porque nos foi ensinado que aquele é o órgão a ser venerado, e também porque a ele foi dado poder, pois é com o falo que os homens conquistam o que querem. Ligamos o falo a tudo aquilo que nos foi ensinado como sendo características do homem, que são características de poder e dominância, e ligamos a vagina a todas as características que nos foram ensinadas como sendo da mulher, que são características que nos ensinaram que são fracas, sem sucesso, que não levam a lugar nenhum.

Isso nada mais é do que a reafirmação de estereótipos de gênero. Para existir um transexual, é necessário que exista também um estereótipo de gênero que o permita imitar e, assim, dizer-se daquele gênero. Isso valida a existência de mulheres trans, pois estas performam a perfeita feminilidade, reforçam o mais concreto estereótipo de gênero. Isso faz com que mais lésbicas, principalmente as butches, se sintam incoerentes com o seu gênero simplesmente por não performarem a feminilidade, por terem misoginia internalizada.

Isso também dá margem para o apagamento lésbico. Uma vez que esteja confirmada a existência de mulheres com pênis, vulgo mulheres trans, também se exige de lésbicas que se relacionem com tais mulheres. Entretanto, um relacionamento lésbico é composto de duas mulheres com vagina, cujo sexo não inclui um pênis, e cujo afeto é de mulher para mulher. Um relacionamento entre mulheres difere-se de um com homens não só no âmbito sexual, mas também no emocional e afetivo. Homens são socializados para dominar, para fazerem de tudo para conquistar, não aceitar um não como resposta, para convencer, enganar, para acreditarem que podem ter tudo o que querem. Ou seja, homens agem de acordo com o que querem sem pensar na companheira, e é exatamente isso que homens fazem no queer. Estes se dizem mulheres e aproveitam dessa nomeação para coagirem lésbicas a se relacionarem com eles, e caso elas neguem, não tachadas de transfóbicas e genitalizadoras. Mas, afinal, ser lésbica não é se relacionar com outra mulher? Porque então uma lésbica deveria desejar relacionar-se com alguém que é “mulher” e possui pênis?

“Mas existem mulheres trans que foram operadas, Papo Reto no Brejo. E agora, hein?”

Essas pessoas foram socializadas como homens, e elas (essas pessoas) continuarão a ser homens. Tendo ou não mais o falo, a socialização continuará existindo. O fato de não terem mais o falo não muda o fato de que essas pessoas ainda possuem poder sobre a mulher, que ainda possuem privilégios na sociedade, pois até uma “mulher trans” é mais respeitada do que uma mulher, mulher mesmo. Basta ver o quanto é falado de mulheres trans, o quanto elas têm voz no movimento feminista, mais voz até do que as próprias mulheres, mulheres mesmo. Inclusive elas possuem o poder de reivindicar que uma lésbica fique com elas. Deve ser porque foram pessoas socializadas como homens e ensinadas que um não nunca é não e nunca deve ser respeitado. Ou seja: são homens, tendo um falo ou não.

“Mulheres trans” também podem reclamar quando uma mulher fala de seu útero, menstruação, quando ela diz amar a sua vagina ou quando está passando por algum momento difícil e reclama.

“Pelo menos você tem útero.”

“Você está sendo genitalizadora.”

“Pare de falar de vagina, isso é genitalizador”

“Lá vem ela falar de menstruação. Eu não menstruo, isso é acionador para mim, sabia?”

As mulheres continuam não tendo espaço para falarem de si mesmas. Lésbicas continuam não tendo espaço para falarem de suas vivências e corpos, o que faz com que cada vez mais mulheres estejam se conhecendo menos e se odiando mais e sendo cada vez mais levadas para dentro do queer, sendo ludibriadas por uma teoria apagadora que as fará acreditar que são um homem, que as levará a normalizar a repulsa que sentem por si mesmas.



É necessário que as lésbicas deixem de ter medo de falar de si mesmas, de suas vivências, que deixem de se colocar em segundo plano e deixem de se anular por homens que dizem serem mulheres e que as levam a acreditar que seus corpos e vivências não importam tanto quanto o corpo e vivências deles. É necessário que lésbicas deixem de cair na armadilha queer, que deixem de ter medo de questionar, que ouçam menos o que o queer tem a dizer. É necessário desconstruir os estereótipos de gênero, e não reafirmá-los. Você não é um homem, sapatão. Você é mulher. Você é lésbica. 

Por: Lacuna Rat

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