quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Meu corpo, Minhas Regras até... você ser Lésbica



Eu inicio meu texto transcrevendo o que uma lésbica militante disse para mim uma vez: “Transfobia é você discriminar alguém por ser trans, não dar emprego, impedir que transite em algum lugar, não transar com essa pessoa é direito meu”. 


O que eu sempre vejo no feminismo é uma luta constante por autonomia do próprio corpo, é nisso que consiste “meu corpo, minhas regras” na autonomia da mulher poder dizer sim e principalmente em dizer não. Mulheres, quando se deparam com homens invasivos, que tentam impor a elas o acesso de seus corpos são, instantaneamente, reconhecidos enquanto abusadores que são e então, a partir daí, essas mulheres reagem a tentativa de abuso e se sentem fortes ao fim da noite, ao fim da festa, ao fim do happy hour por conseguirem barrar um abusador, por conseguirem simplesmente dizer não à um homem. Quando mulheres estão reunidas e homens tentam invadir seus espaços, elas então, muitas vezes em conjunto, reagem à presença desses homens, expulsando-os e denunciando-os como invasores e abusadores que de fato, são. Quando homens abordam mulheres para que tenham relações sexuais, essas mulheres, ao passo que conheçam seus direitos e tenham voz, se sentem, suportadas por outras mulheres, seguras em dizer não. E esses exemplos são grandes avanços e grandes conquistas para muitas mulheres que descobrem que o dizer “não” é a verdadeira liberdade que tanto se fala. No entanto, se essas mulheres forem lésbicas, o direito de dizer não lhes é tirado sem dialogo ou empatia, lhes é arrancado.


Lésbicas não têm o direito de dizer não. A política liberal do sexo livre tira o direito de lésbicas em dizer não ao acesso de homens a seus corpos. “Não se limite” dizem para mulheres lésbicas, que, como toda vítima, coagida e só, acaba cedendo (e ceder não é consentir) e sofrendo violências que talvez diga para si mesma que não sejam violências, tentando se adaptar a realidade imposta, às normas liberais, permitindo que homens acessem seu corpo, fingindo para si mesma que gosta, para que não seja rotulada acaba violentada. Em meio aos estupros corretivos, lésbicas acabam naturalizando violências sofridas: “eu não gostava, mas com o tempo posso gostar”; “ele é legal, me trata com respeito”; enquanto sua consciência escorre pelos dedos, enquanto sozinha se pergunta se não há saída, enquanto todos dizem que rótulos limitam e tudo que limita é tóxico ela perde, dentro de si, a mulher que um dia foi, perde, dento de si, a possibilidade do não; tiram dela a autonomia celebrada por outras mulheres, tiram dela o direito da autonomia de seu corpo, o direito à livre expressão de sua sexualidade. E ela é lésbica.


Mas, lésbicas também tem seu direito tirado pelo transativismo, uma vez que, lésbicas, históricamente, são mulheres que se relacionam com mulheres que são pessoas nascidas com vagina, ao, impor uma relação pênis + vagina para uma lésbica e, negando-lhe o direito de dizer não, sob a falsa cartada da transfobia, o transativismo está, assim como todo o sistema, dizendo que lésbicas não tem direito ou autonomia sobre seu próprio corpo, ao negar a história da lesbiandade e da resistência do que é ser lésbica,o transativismo está, como todo o sistema, dizendo que lésbicas não tem direito ao acesso e a afirmação de sua história, ao impor a relação pênis + vagina para lésbicas e tirando-lhes o direito de dizer não e as acusando de conivência com violências homofóbicas, o transativismo está, na verdade, chantageando, manipulando, coagindo e violentando lésbicas. Você lésbica, que está lendo meu texto e discorda, experimente dizer não à um transativista, experimente contar a história da lesbiandade, experimente dizer que sexo conta sim, que nós amamos bucetas e essa é nossa história, experimente não consentir que um transativista tenha acesso à seu corpo. Não, nós não estamos seguras com transativistas em nossos espaços, nós não estamos seguras porque não temos direito e autonomia para dizer não. Quando esse direito nos é tirada, nada mais sobra do que ceder e ceder não é consentir, temer ser comparada com homofóbicos por fazer valer a autonomia sobre seu corpo não é consentimento, é violação.


Lembremo-nos do orgulho em sermos lésbicas, lembremo-nos do orgulho em amar mulheres, suas vaginas, seus seios, seu intelecto, sua afetividade, sua amizade, lembremo-nos de que somos as mulheres que homens nunca tiveram ou nunca mais terão acesso. Apoiemos umas às outras, libertemo-nos das violações e imposições e alcancemos o direito e autonomia do dizer NÃO.

Por: Marx Lopes.

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